O Salmo 126 é a oração de um povo que sofre muito em meio a uma enorme crise. Diante de dificuldades tão ameaçadoras, o povo busca o socorro de Deus (v.4). A fé deste povo não existe num vazio, não é supersticiosa, superficial e abstrata, mas está fundamenta sobre dois pilares: o primeiro é a recordação de um grande evento histórico de libertação que aconteceu no passado (vs. 1-3) e o outro diz respeito à uma experiência mais próxima do dia a dia daquela comunidade agrícola, algo que se repetia todos os anos, uma lição extraída da natureza da vida, em que se pode ver a mão provedora de Deus (vs. 5-6).
O salmista está trazendo a memória aquilo que pode dar esperança (Lm 3.21). A recordação dos grandes feitos do Senhor, como a libertação do cativeiro babilônico, traz esperança, fé, ânimo e alegria: "Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isto estamos alegres!" (v.3). Aquele cativeiro e exílio haviam sido um dos piores momentos da história do povo hebreu, mas, quando tudo parecia perdido, o Senhor manifestou-se Salvador, e as lágrimas converteram-se em sorrisos de enorme alegria (v.2)!
Além disto, como já mencionado, outra inspiração para orar e trabalhar com confiança é uma lição extraída da experiência de vida cotidiana, pois, como lavradores, eles bem sabiam que, muitas vezes, a alegria de uma colheita abundante é conquistada através de um processo que exige muito esforço, perseverança, sofrimento e lágrimas (Vs. 5-6). A história ajuda a entender a vida e a vida ajuda a entender a história. Vida e fé se iluminam mutuamente!
Por vezes, o plantio se faz na penúria. Mas a esperança de uma abundante colheita inspira-os a plantar. A benção é prometida para os trabalhadores, não para os acomodados. “Aquilo que o homem semear, também ceifará” (GL 6.7-9), “Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará” (2 CO 9.6), Disse Paulo: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus dá o crescimento” (1Co 3.6). Deus dá o crescimento para aquele que, a despeito das adversidades, planta e rega com fé.
O choro aqui não é de desânimo, desespero e de covardia, e nem é o choro de um fatalista, conformado, que está prostrado nutrindo sentimentos de autocomiseração, e nem de um murmurador passivo e nem muito menos é choro e lamento de um saudosista, que está preso ao passado, como aquele que diz "no meu tempo é que era bom". "No meu tempo"? Uma pessoa viva devia ter a consciência de pertencer ao tempo presente. As memórias de um saudosista, ainda as mais gloriosas, em vez de produzirem encorajamento para encarar as dificuldades e desafios do presente, inspirando à construção de um futuro melhor, acabam por aumentar ainda mais a dor e frustração diante da crise e chegam ao ponto de até mesmo elipsar as conquistas e realizações presentes, como no caso daqueles que em vez de celebrarem a inauguração do novo templo choravam amargamente ao recordarem a glória do templo de Salomão. Em vista disto, o Senhor dirá: "A glória dessa última casa será maior do que a primeira, diz o Senhor dos Exércitos; e, neste lugar, darei paz diz o Senhor dos Exércitos ( Ageu 2: 9)!". É como diz a canção de Kleber Lucas: "O melhor de Deus ainda está por vir!".
Mas, bem diferente disto, aquele choro era o de quem segue em frente, andando e plantando a semente (v.6), de quem sofre esperançoso de que Deus irá mudar a sua sorte (v.4), comparado ao choro de uma mulher que está dando a luz à um filho (Jo 16.21). É o choro daquele que sabe que seu trabalho e sofrimento não é vão no Senhor (1 Co 15.58).
O salmista transforma o milagre do passado em medida para o futuro. Fruto da intervenção divina, a felicidade desfrutada no passado é trazida à lembrança para ser chamada de volta em oração! Há esperança de que o deserto transforme-se em um manancial de águas como as Torrentes no Neguebe. Situações difíceis e extremas são oportunidades para a intervenção milagrosa de Deus. Devemos trazer a memória apenas aquilo que nos pode dar esperança. Discernindo a boa mão do Senhor em nossa história e na vida.
O milagre da história e da vida nos inspira a orar e a trabalhar com confiança. Portanto, nada de ficar murmurando, nutrindo desespero, pessimismo e espírito de autopiedade. Não se entregue a depressão e nem fique acomodado diante da crise. Pois, o mesmo Deus que operou maravilhas no passado e que é Senhor da vida continua a operar no presente. Ele ainda liberta do cativeiro e transforma deserto em um jardim florido. Deus mudará a sorte daqueles que nEle esperam e semeiam com fé.
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