Decifrando os mistérios de Deus

Por que Deus criou pessoas que Ele já sabia que iam para o inferno? Como pode Deus ser um e três? Os sete dias da Criação são literais ou simbólicos? Por que pecamos se Deus pode não nos deixar cair em tentação? Como decifrar os mistérios de Deus? Como explicar essas coisas tão complicadas?

Eu não sei explicar. Na verdade, não faço a mínima ideia.
Ahn? Como assim, Zágari? Se não sabe por que está escrevendo esse post?
Porque essa é uma das belezas de Deus e do Evangelho: seus mistérios. Buscamos respostas para o inexplicável, investimos tempo em teorias, mas há questões que simplesmente fogem da nossa capacidade humana. É claro que posso tecer minhas explicações, escrever livros sobre o assunto e apresentar muitas respostas. E esse é o caminho mais rapido e curto para falar enormes inverdades.
O ser humano tem uma necessidade impressa em seu código genético: buscar explicações. Ter respostas. E isso nos foi dado por Deus por uma boa razão. Foi esse impulso de saber tudo, de encontrar as causas, que nos motivou ao longo das eras a buscar conhecimento, a perscrutar os astros, a desenvolver a Filosofia, a criar a ciência, a tentar entender de uma célula ao cosmos e a Deus, a partir em busca de entendimento sobre tudo. O ser humano é iluminista por natureza: a ignorância não nos basta. Não nos sacia. Ignorância dá fome.
Na nossa vida de fé sempre queremos ter nossa explicação para tudo. Dizer “eu não sei” parece nos relegar ao mundo dos ignorantes e nos rebaixar à categoria dos que não pensam. Que petulância, rio eu ao lembrar de como eu mesmo sou assim.  Temos de fazer o que é certo: reconhecer nossa impossibilidade de explicar tudo e caminhar somente até onde a Bíblia nos permite. A tentação de dizer “porque…” é enorme. Mas se quero ser honesto comigo, com você e com Deus, preciso dizer “porque…bem, na verdade não sei o porquê. É o que é”.
Tenho muitas divergências do pensamento do filósofo Immanuel Kant. Mas hoje penso que um conceito formulado por ele precisa ser adotado por todos se queremos ser honestos em nossa teologia: o númeno. E o que é isso? É a realidade tal como existe em si mesma, de forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o conhecimento humano. Portanto, o númeno é uma realidade que não depende de nada para existir. Equivale a uma realidade absoluta e que está separada daquilo que eu acho ou acredito. Portanto, hoje, os grandes mistérios de Deus simplesmente encarcero no númeno do meu conhecimento, aquilo que certamente tem uma explicação mas sou incapaz de alcançar. E sigo feliz, me esforçando por viver aquilo que não é misterioso, mas é claro e cristalino: eu pequei. Jesus encarnou, morreu e ressuscitou para pagar o preço do pecado. Pela graça sou perdoado e salvo. Devo desenvolver essa salvação em santidade e proclamar o Caminho para quem ainda não o conhece. Amém e amém.
A Aids tem cura? Tem, só que ainda não a descobrimos. Os ETs existem? Há resposta para isso, só que ainda não a descobrimos. Por que Deus criou certos homens se já sabia que iam para o inferno? Há uma explicação, só que ainda não descobrimos. Os sete dias da Criação são literais ou simbólicos? A resposta está em algum lugar, só que ainda não descobrimos. Adão tinha umbigo? Existe uma verdade sobre isso, só que ainda não descobrimos. Das questões mais fundamentais às mais bobas, há uma resposta. Só que ainda não sabemos qual é, não chegamos lá. Meu avô ficou dois anos internados num hospital, em 1972 (o ano em que nasci) e 1973, por ser tuberculoso. Ainda não se havia descoberto a cura da tuberculose. Hoje, 40 anos depois, basta ir a um posto de saúde e tomar remedinhos em casa por alguns meses e você ficará bom. Mesmo com HIV atualmente já é possível viver por muitas décadas, tomando o coquetel de medicamentos que 20 anos atrás não havia sido descoberto.
A ignorância sobre Deus e seus mistérios permeia nossa existência. Mas a ignorância não é infinita: um dia saberemos. E isso é promessa bíblica: “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino. Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido” (1 Co 13.11,12).
Ser criança não é vergonhoso nem é pecado: é uma realidade. Só precisamos constatá-la e reconhecê-la. Eu sou um menino em muitas coisas. Por que Deus permite que eu peque se Ele pode impedir? Desculpe, sou menino, meu conhecimento não chegou ao ponto de responder isso. Mas estou na caminhada, um dia após o outro, e quero saber as respostas. Não me contento nem me acomodo na ignorância, mas a reconheço como fato enquanto fato ela é. Creio que um dia verei a resposta face a face. E aí poderei afirmá-la sem nenhum medo de estar dando uma explicação especulativa e irresponsável.
A máquina funciona. Como é seu mecanismo e como giram as engrenagens de seu motor, não faço ideia. Mas conto a todos que existe essa máquina e sou grato a Deus por ela. Entender e saber explicar o funcionamento do motor por enquanto é desnecessário, basta que ele funcione. Quando eu crescer e deixar de ser menino, o projetista e construtor me dará uma aula sobre seu funcionamento. E então, somente então, conhecerei plenamente. Até lá, como diria o admirável Zac Smith, sei que Deus é Deus e Deus é bom. A Deus seja a glória.

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