Três Homens Saíram do Jardim



Três homens saíram do Getsêmani, um jardim situado ao pé do monte das Oliveiras. Nas horas depois do encontro destes homens naquele jardim, os atos realizados por cada um revelariam com clareza a vontade e o caráter de cada um. E quando observamos os passos de cada um desses homens, percebemos que o que fizeram no jardim e suas atitudes e motivos antes de chegarem ao monte já indicaram suas trajetórias distintas nas horas depois. Nestes contrastes, encontramos lições valiosas para as nossas vidas.

Jesus Cristo saiu do jardim do Getsêmani. Na saída, ele encontrou um grupo de talvez 600 pessoas – soldados e representantes dos sacerdotes judeus, chegando com intenção de levá-lo preso. Mandaram Judas na frente para identificar a pessoa certa, e esperavam, armados, prontos para prendê-lo. Mas Jesus não foi tomado como criminoso fugindo das autoridades. Ele se dirigiu aos que foram prendê-lo e mostrou seu controle perfeito da situação. Quando ele se apresentou à escolta que seguia Judas, aqueles homens recuaram e caíram. Embora Jesus tivesse condições de chamar milhares de anjos para defendê-lo, ele se entregou sem resistência, e até repreendeu Pedro quando este levantou sua espada contra um dos soldados (João 18:3-11). Nas horas seguintes, Jesus manteve seu domínio perfeito de si. Não foi vencido por Pilatos, nem Herodes, nem os líderes dos judeus, nem pelo próprio Satanás. Jesus avançou com determinação e tomou cada passo com a convicção do seu propósito.

Judas Iscariotes saiu do mesmo jardim. Neste momento, dá para imaginar Judas se escondendo atrás dos escudos dos soldados que o acompanhavam, com medo de Pedro e os outros apóstolos e, mais ainda, com medo do próprio Cristo. Mas ele havia cumprido sua missão logo quando chegou ao jardim. Ele se dirigiu diretamente a Jesus e usou um símbolo de respeito de discípulo para com seu Mestre, o beijo mais infame da História, para trair o único homem perfeito que já pisou neste planeta. Durante aquela noite longa, Judas teve bastante oportunidade para refletir sobre seu ato de traição e sobre o caráter daquele homem nazareno que ele entregou para ser condenado e morto. Ele sentiu remorso, mas ainda não se humilhou diante do Senhor para buscar a sua graça e misericórdia. Ao invés de correr para Jesus e pedir perdão, ele tentou fugir da realidade do seu próprio pecado. Não achando outra saída, optou pelo suicídio, e se jogou, totalmente despreparado, nas mãos do Deus vivo que julga e retribui (Mateus 27:3-5; Hebreus 10:29-31; 12:29).

Pedro saiu do Getsêmani. Inicialmente, ele agiu com bravura, desembainhando sua espada e colocando sua vida em risco para defender seu Mestre. O próprio Jesus havia insistido que os apóstolos levassem espadas (Lucas 22:35-38), talvez com a intenção de deixar os apóstolos perceberem a futilidade de tentarem se defender com violência. Quando Pedro saiu do jardim, ele queria saber de tudo que acontecesse com Jesus, mas procurava ficar nas sombras para não sofrer junto. Quando não conseguiu se esconder, ele negou o Senhor, não somente uma, mas três vezes! A diferença entre Pedro e Judas não está no caráter nem na gravidade dos pecados contra Jesus. Um traiu ao Senhor, e o outro lhe negou. A diferença está na reação dos dois depois do pecado. Judas tentou fugir do Senhor, enquanto Pedro se arrependeu e voltou correndo para Jesus, se tornando um discípulo fiel e dedicado.

Para entender melhor a diferença entre esses três homens, devemos voltar e observar o que aconteceu antes e durante seu tempo no jardim. Judas se juntou aos inimigos de Jesus e entrou no jardim com o propósito de trair o Mestre. Seu amor por Cristo, nesta altura, foi fingido. Pedro entrou no jardim confiante, até negando sua própria vulnerabilidade (Mateus 26:31). Ao invés de aproveitar o tempo no Getsêmani para se aproximar de Deus, Pedro dormiu. Ele não se colocou como inimigo de Jesus, mas se mostrou negligente naquela hora. Jesus reconheceu sua própria fragilidade diante da maior tentação de sua vida, mas não se desviou do seu propósito: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome...” (João 12:27-28). 

Como entramos no jardim de oração? Como inimigos, fingindo interesse enquanto fugimos da presença do Senhor? Como pessoas confiantes, mas negligentes e vacilantes na hora da provação? Ou como pessoas dependentes, mas determinadas a fazer a vontade de Deus, custe o que custar?

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