Deus é onisciente. Ele sabe todas as coisas — todas as coisas possíveis, todas as coisas reais, todos os eventos, conhece todas as criaturas, todo o passado, presente e futuro.
Conhece perfeitamente todos os
pormenores da vida de todos os seres que há no céu, na terra e no
inferno.Nada escapa à Sua atenção, nada pode ser escondido dEle, não há
nada que Ele esqueça! Bem podemos dizer com o salmista: ‘Tal ciência é
para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir’ (Salmo
139:6). Seu conhecimento é perfeito. Ele jamais erra, nem muda, nem
passa por alto coisa alguma. ‘E não há criatura alguma encoberta diante
dele: antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com
quem temos de tratar’ (Hebreus 4:13). Sim, tal é o Deus a quem temos de
prestar contas!
‘Tu conheces o meu assentar e o meu
levantar: de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o
meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra
na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces’ (Salmo 139:2-4), Que
maravilhoso Ser é o Deus das Escrituras! Cada um dos Seus gloriosos
atributos deveria torná-lo honorável à nossa apreciação. A compreensão
da Sua onisciência deveria inclinar-nos diante dEle em adoração.
Contudo, quão pouco meditamos nesta perfeição divina! Será por que o só
pensar nela nos enche de inquietação?
Quão solene é este fato: nada se pode
esconder de Deus! : ‘… quanto às cousas que vos sobem ao espírito, eu as
conheço’ (Ezequiel 11:5). Embora sendo Ele invisível para nós, não o
somos para Ele. Nem as trevas da noite, nem as mais espessas cortinas,
nem o calabouço mais profundo podem ocultar o pecador dos olhos do
Onisciente. As árvores do jardim não puderam ocultar os nossos primeiros
pais. Nenhum olho humano viu Caim assassinar seu irmão, mas o seu
Criador testemunhou o crime. Sara pôde rir zombeteira, oculta em sua
tenda, mas foi ouvida por Jeová. Acã roubou uma cunha de ouro e a
escondeu cuidadosamente no solo, mas Deus a trouxe à luz. Davi escondeu a
sua iniqüidade a duras penas, mas pouco depois o Deus que tudo vê
enviou-lhe um dos Seus servos para dizer-lhe: ‘Tu és o homem!’ E tanto
ao escritor como ao leitor se diz: ‘… sabei que o vosso pecado vos há de
achar’ (Números 32:23).
Os homens despojariam a Deidade da Sua
onisciência, se pudessem — prova de que ‘… a inclinação da carne é
inimizade contra Deus… ‘ (Romanos 8:7). Os ímpios odeiam esta perfeição
divina com a mesma naturalidade com que são compelidos a reconhecê-la.
Gostariam que não houvesse nenhuma Testemunha dos seus pecados, nenhum
Examinador dos seus corações, nenhum Juiz dos seus feitos. Procuram
banir tal Deus dos seus pensamentos: ‘E não dizem no seu coração que eu
me lembro de toda a sua maldade…’ (Oséias 7:2). Como é solene o Salmo
90:8! Boa razão tem todo o que rejeita a Cristo para tremer diante
destas palavras: ‘Diante de ti puseste as nossas iniqüidades: os nossos
pecados ocultos à luz do teu rosto’.
Mas a onisciência de Deus é uma verdade
cheia de consolação para o crente. Em tempos de aflição, ele diz com Jó:
‘Mas ele sabe o meu caminho…’ (23:10). Pode ser profundamente
misterioso para mim, inteiramente incompreensível para os meus amigos,
mas ‘Ele sabe’! Em tempos de fadiga e fraqueza, os crentes podem
assegurar-se de que Deus ‘ … conhece a nossa estrutura; lembra-se de que
somos pó’ (Salmo 103:14). Em tempos de dúvida e vacilação, eles apelam
para este atributo, dizendo: ‘Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração:
prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se ha em mim algum
caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno’ (Salmo 139:23-24). Em tempos
de triste fracasso, quando os nossos corações foram traídos por nossos
atos; quando os nossos feitos repudiaram a nossa devoção, e nos é feita a
penetrante pergunta, ‘Amas-me?’, dizemos, como o fez Pedro: ‘… Senhor,
tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo…’ (João 21:17).
Aí temos estímulo para orar. Não há
motivo para temer que as petições do justo não serão ouvidas, ou que os
seus suspiros e lágrimas não serão notados por Deus, visto que Ele
conhece os pensamentos e as intenções do coração. Não há perigo de que
um santo seja passado por alto no meio da multidão de suplicantes que
todo dia e toda hora apresentam as suas variadas petições, pois a Mente
infinita é capaz de prestar a mesma atenção a multidões como se apenas
um indivíduo estivesse procurando obter a Sua atenção. Assim também a
falta de linguagem apropriada, a incapacidade de dar expressão ao anseio
mais profundo da nossa alma, não comprometerá as nossas orações, pois,
‘… será que antes que clamem, eu responderei: estando eles ainda
falando, eu os ouvirei’ (Isaías 65:24).
‘Grande é o nosso Senhor, e de grande
poder; o seu entendimento é infinito’ (Salmo 147:5). Deus não somente
sabe tudo que aconteceu no passado em todos os rincões dos Seus vastos
domínios, e não apenas conhece por completo tudo o que agora está
ocorrendo no universo inteiro, mas também é perfeito conhecedor de todos
os acontecimentos, do menor ao maior deles, que haverão de suceder nas
eras vindouras. O conhecimento que Deus tem do futuro é tão completo
como o Seu conhecimento do passado e do presente, e isso porque o futuro
depende totalmente dEle próprio. Se fosse possível ocorrer alguma coisa
sem a ação direta de Deus ou sem a Sua permissão, então aquilo seria
independente dEle, e Ele deixaria, de pronto, de ser Supremo.
Ora, o conhecimento divino do futuro não
é mera abstração, mas é algo inteiramente ligado ao Seu propósito, o
qual o acompanha. Deus mesmo planejou tudo que há de ser, e o que Ele
planejou terá que ser efetuado. Como a Sua Palavra infalível afirma, ‘…
segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da
terra: não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes?’
(Daniel 4:35). E de novo: ‘Muitos propósitos há no coração do homem, mas
o conselho do Senhor permanecerá’ (Provérbios 19:21). Como a sabedoria e
o poder de Deus são igualmente infinitos, tudo que Deus projetou está
absolutamente garantido. (Que os conselhos divinos deixem de cumprir-se,
é tão impossível como seria para Deus, três vezes santo, mentir.
Quanto à realização dos conselhos de
Deus relativos ao futuro, nada é incerto. Nenhum dos Seus decretos é
deixado na dependência das criaturas, nem das causas secundárias. Não há
evento futuro que seja apenas uma possibilidade, isto é, coisa que pode
ou não vir a acontecer. ‘Conhecidas por Deus são todas as suas obras
desde a eternidade’ (Atos 15:18). O que quer que Deus tenha decretado é
inexoravelmente certo, pois nEle ‘… não há mudança nem sombra de
variação’ (Tiago 1:17). Portanto, ‘logo no início do livro que nos
desvenda tantas coisas do futuro, são nos ditas ‘… as coisas que
brevemente devem acontecer…’ (Apocalipse 1:1).
O perfeito conhecimento de Deus é
exemplificado e ilustrado em todas as profecias registradas em Sua
Palavra. No Velho Testamento acham-se vintenas de predições concernentes
à história de Israel, as quais se cumpriram até o mínimo pormenor,
séculos depois de terem sido feitas. Há também vintenas doutras mais,
predizendo a carreira de Cristo na terra, e também se cumpriram literal e
perfeitamente. Tais profecias só poderiam ter sido dadas por Alguém que
conhecesse o fim desde o princípio, e cujo conhecimento repousasse na
incondicional certeza da realização de tudo quanto fosse predito. De
modo semelhante, o Velho e o Novo Testamento contêm muitos outros
anúncios ainda futuros, e estes também ‘tem que cumprir-se’ (Lucas
24:44, na versão usada pelo autor), tem que cumprir-se porque preditos
por Aquele que os decretou.
Contudo, deve-se assinalar que, nem o
conhecimento de Deus, nem a Sua cognição do futuro, considerados
simplesmente em si mesmos, são causativos. Nada jamais aconteceu, nem
acontecerá, apenas porque Deus o sabia. A causa de todas as coisas é a
vontade de Deus. O homem que realmente crê nas Escrituras sabe de
antemão que as estações do ano continuarão a seguir-se sucessivamente
com infalível regularidade até o fim da história da terra (Gênesis
8:22); todavia, não é o seu conhecimento a causa da referida sucessão de
eventos. Assim, o conhecimento de Deus não nasce das coisas porque elas
existem ou existirão, mas porque Ele ordenou que existissem. Deus sabia
da crucificação do Seu Filho e a predisse muitas centenas de anos antes
que Ele Se encarnasse, e isto, porque, segundo o propósito divino, Ele
era um Cordeiro morto desde a fundação do mundo. Portanto, lemos que Ele
‘…foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus…’ (Atos
2:23).
Uma ou duas palavras, à guisa de
aplicação. O conhecimento infinito de Deus deveria encher-nos de
assombro. Quão exaltado é o Senhor, acima do mais sábio dos homens!
Nenhum de nós sabe o que o dia nos trará, mas todo o futuro está aberto
ao Seu olhar onisciente. O conhecimento infinito de Deus deveria
encher-nos de santa reverência. Nada do que fazemos, dizemos ou mesmo
pensamos, escapa à percepção dAquele a quem teremos que prestar contas:
‘Os olhos do Senhor estão em todo o lugar, contemplando os maus e os
bons’ (Provérbios 15:3). Que freio seria para nós, se meditássemos nisso
mais freqüentemente! Em vez de agir descuidadamente, diríamos com
Hagar: ‘Tu, ó Deus, me vês’ (Gênesis 16:13) — segundo a versão utilizada
pelo autor, A capacidade de compreensão que o conhecimento infinito de
Deus tem deveria encher o cristão de adoração. Minha vida inteira esteve
aberta ante os Seus olhos desde o princípio! Ele previu todas as minhas
quedas, todos os meus pecados, todas as minhas reincidências; todavia,
fixou em mim o Seu coração. Como a percepção disto deveria fazer-me
prostrar em admiração e adoração diante dEle!
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