“Por que uma igreja morre?”
Esse foi o questionamento feito por um garoto de doze anos a um velho
pastor. Com os olhos marejados de água, enquanto folheava as páginas da
Bíblia, o ancião dizia ao garoto: “Os cristãos cometem muitos enganos
nesse assunto. Muitos pensam que a igreja morre em conseqüência dos
ataques de Satanás. Mas o inferno não tem poder para destruir a igreja.
Pelo contrário; diante da igreja, são as portas do inferno que não podem
prevalecer. O maior inimigo da igreja não são os demônios nem alguma
ausência de atividade evangelística, nem alguma deficiência no ensino,
nem algum tipo de problema financeiro, mas as divisões entre os crentes.
Jesus afirmou que um reino dividido não pode subsistir (Marcos 3.24). Assim, se a igreja está dividida, ela não consegue sobreviver. Antes, ela morre.”
O apóstolo Paulo sabia que a morte de
uma igreja acontecia como conseqüência das divisões. Por isso mesmo, tão
intensamente, ele alertou a igreja de Corinto sobre esse assunto. Em I
Coríntios 1.10-17 ele escreveu sobre isso. Nas suas palavras contra a
divisão, Paulo apontava para o próprio Senhor Jesus: Cristo não estava
dividido e, por isso, nós, os cristãos, devemos lutar contra as
divisões.
Devemos lutar contra a diferença na linguagem:
Uma das causas da multiplicação das
divisões é a diferença na linguagem. Se as pessoas de uma comunidade
começam a não concordar naquilo que falam, essa comunidade corre um
sério risco de morrer. Paulo sabia disso. Por isso, quando escreveu para
os crentes de Corinto, ele alertou: “Irmãos, em nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no
que falam, para que não haja divisões entre vocês, antes, que todos
estejam unidos num só pensamento e num só parecer.” (I Coríntios 1.10)
A diferença na linguagem acontece quando
os cristãos começam a enfatizar um único ensinamento em detrimento dos
demais ensinamentos da Escritura. É como se um grupo começasse a
enfatizar somente a batalha espiritual; outro, somente a teologia
sistemática; um terceiro grupo, somente missões; outro, somente a cura
divina; um quinto enfatizasse somente as células; outro, somente a
importância do seminário; e assim por diante. São vários grupos
distintos dentro da igreja dizendo que os seus ensinamentos são os mais
importantes e os mais relevantes, anunciando somente as suas linguagens
características. Inconscientemente, eles vão promovendo a divisão dentro
da igreja.
A sobrevivência da igreja depende da
unidade na linguagem. Os cristãos dos primeiros séculos sabiam disso.
Por isso, quando um crente se levantava trazendo algum ensinamento
diferente daquele exposto na Bíblia ou que enfatizasse apenas um único
aspecto da Bíblia, logo iniciava-se uma “movimentação santa”. Os crentes
se reuniam e debatiam sobre aquele novo ensinamento até identificarem a
posição das Escrituras e os problemas de se enfatizar apenas um único
ponto. Eles não descansavam até que a linguagem fosse unificada dentro
da igreja.
Devemos lutar contra a ênfase no partidarismo:
O ser humano tem uma tendência natural
de se ligar aos grupos com os quais se identifica. Isso não é ruim; faz
parte da nossa individualidade como seres humanos e a Bíblia não condena
esse tipo de associação natural. Mas a Bíblia condena, sim, aquela
associação que nasce a partir de divisões dentro de um determinado
grupo. Ela condena as associações com ênfase no partidarismo, em que as
pessoas valorizam o seu próprio grupo e desprezam os demais. Era isso
que estava acontecendo dentro da igreja: as diferenças de linguagem
estavam provocando divisões e promovendo partidarismos. (I Coríntios
1.12)
Esse tipo de postura só esvazia o
significado de igreja, enfatiza a criação de partidos dentro da
comunidade, faz nascer divisões entre as pessoas e enfraquece a igreja.
Mas Cristo, o Cabeça da igreja, não está dividido. Por isso mesmo nós
devemos lutar contra a ênfase no partidarismo.
Devemos lutar contra a competição por pessoas:
Dentro das disputas na igreja de
Corinto, os grupos procuravam se fortalecer, tentando conseguir o maior
número possível de adeptos através dos batismos. Na cabeça deles, quando
alguém batizava o batizado já era adepto do grupo desse alguém. E,
absurdamente, esses grupos estavam promovendo essa competição, usando o
nome de Paulo, de Apolo e de Pedro. Diante disso, Paulo pergunta: “Acaso
Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram
vocês batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus por não ter batizado
nenhum de vocês, exceto Crispo e Gaio; de modo que ninguém pode dizer
que foi batizado em meu nome (Batizei também os da casa de Estéfanas;
além destes, não me lembro se batizei alguém mais). Pois Cristo não me
enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho.” (I Coríntios
1.13-17a).
Paulo mostra que era um absurdo as
pessoas se dividirem em partidos e competirem por pessoas. Cristo não
está dividido; por isso, devemos lutar contra a competição por pessoas.
Devemos entender que as pessoas que chegam à igreja não nos pertencem,
mas a Cristo. Nós somos apenas os vasos usados por Deus para ministrar o
Evangelho àqueles que se convertem. Ainda que devamos ser modelos para
as pessoas, devemos formar seguidores – não de nós mesmos, mas de
Cristo. Se cada pessoa formar seguidores dela mesma, haverá várias
linguagens, vários partidos e grande divisão dentro da igreja. Contudo,
como afirmou o apóstolo Paulo, Cristo não está dividido.
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